Texto curatorial

O Olhar: o que vemos nos afeta

O que o Olhar quer nos dizer? Acreditávamos que a Fotografia em sua maioridade, por si só, seria capaz de dar conta do Fenômeno que vivenciamos, fotografando. Até que chega o Pensamento, o irmão consequente da Fotografia e desestabiliza tudo: a verdade vai ao chão. Era a Fotografia uma grande mentira? Aquilo não era mais aquilo, e nem isto é mais isto. Apenas é.

Sim, mas então, o que é O Olhar? Tão complexa quanto a pergunta será a resposta, e para iniciarmos uma possibilidade de desenvolvimento da ideia aqui apresentada, é que surge a proposta desta mostra: O Olhar: o que vemos nos afeta, coletiva de fotografias composta por trinta pensamentos distintos de uma mesma Fotografia, a baiana.

É vermelho, é Iansã, é Santa Bárbara I, II, III, IV
Pepe Fiorentino 
30cm x 45cm, Ano: 2017

Cada um dos fotógrafos e fotógrafas que gentilmente disseram sim ao convite para resumir em imagens seus pensamentos aqui, dizem algo que não será alcançado meramente com os olhos.

Aos Olhos será permitido mergulhar até determinada extremidade espacial, ao Pensamento não, a ele será dado a condição da mais profunda das viagens, um retorno ao nosso ponto zero, o mesmo de Bavcar, um encontro com nosso big ben. Com o Pensamento traremos a luz questões antes nunca vistas. Os Olhos não, eles só creem no que veem não se permitindo transcender a sua própria natureza.

Dito isso, o que pode também ser compreendido como dito nada, devo acrescentar que, este conjunto consistente de imagens – Fotografias, por ocasião da realização da 7ª edição do Festival A Gosto da Fotografia, é um signo, não de estrelas, mas de Pensamentos, uma verdadeira nuvem de ideias. Será necessário fechar os olhos para que possamos ver algumas das imagens mentais, aqui mostrada neste conjunto da Caixa Cultural.

Hoje na Fotografia prevalece um Fenômeno, é o que estamos pretensiosamente, tentando mostrar: o que vale não é o que será visto ao longo do salão, o que vale, é o que conseguirá dizer cada um dos que aqui se fazem presente, com o que se mostra. Será necessário ficar atento.

Obviamente que toda essa provocação tem como único objetivo: levar a uma reflexão, a uma sensação a uma Fotografia, a um corpo, a uma alma e por fim: a um Pensamento.

Os verdadeiros fotógrafos já sabem: o Pensamento vai ou já está dominando o mundo, não por sua força, mas por seu poder de convencimento.

Marcelo Reis

Fotógrafo e Jornalista

Curador

A Gosto da Fotografia, julho de 2019, 7ª edição